27 maio, 2014

Auxiliares de limpeza e a sétima sinfonia com literatura

Francisca limpa o chão que ela pisa,
que eu piso,
chão de nosso trabalho.

Lourdes limpa a privada que ela usa,
que eu uso,
são os vasos sanitários da universidade.

Francisca fala de Clarice,
gosta do Machado,
e tem sempre um livro em mãos
feito cajado.

Na juventude escrevia poesia
disse que teve a vida sofrida
mas que os versos
sempre lhe trouxeram alegria.

E dona Chica
diz que o dinheiro é curto
mas não perde um teatro
pois peça gratuita tem lá no Céu
e ela assiste sempre com o seu
querido marido Dirceu.

Quando me encontra
atrás de um galpão
Francisca traz a cena do palco
em seu olhar
e rapidamente compreendo
que o cenário real de Chica
deveria ser em outro lugar.

Já a senhora Lourdes
canta em qualquer banheiro.
Dia destes estava eu
concentrada na urina
e de repente alguém entra
cantando Elis Regina.

E como tenho a curiosidade feito heroína
quis logo saber o que mais aquela pessoa cantava
fazendo faxina.

-Ah minha fia, aqui é Tim Maia, Rita Lee, reggae, forro,
e digo ainda mais prucê que qualquer coisa eu canto e danço,
porque é feito terapia que afasta a tristeza da vista da gente.

- Mas do que você gosta mais?

- Ah...eu gosto mesmo é do Beethoven!!!

- Então a senhora curte música clássica?

( meus olhos brilharam e o sorriso dela alargou)

- Opá ...é minha preferida, moça!!!

24 maio, 2014

- Silêncio!!!


No fundo do mar ninguém fala, a gente escuta, a gente é mudo, a gente aprende.

Fiquei um tempo no fundo do mar pra escutar o que não ouvia, tive que calar.

Vi peixes, tubarões, anêmonas...
Uns amigos, outros inimigos e outros camaleões.
Tudo refletido em mim,
olhei pra dentro e vi
olhei pra fora e vi também,
- me vi!

E não se fala, não se fala, não se fala...a gente só escuta, vem a correnteza - um golpe nos leva, a maré sobe, a maré baixa, cardumes aparecem, baleias abrem a boca e a gente observa.

Subimos,
na superfície retiramos o oxigênio pelas brânquias
e depois descemos
bem lá no fundo
onde o azul é negro
onde tem bicho e não vejo nada
e também sou bicho
trocando de mudas.

Passar o tempo
não é passatempo
passei pra ouvir o que não ouvia
pra me conhecer
olhar praquilo e compreender
leva-se tempo para amadurecer
tempo pra deixar o som entrar e se transformar em você
ou deixar ele sair e ecoar
porque geralmente ele escapa e ficamos sem entender.

Escapa porque a gente fala demais.
Escapa porque a gente não vê nem peixe e nenhum outro ser que ali esteja.
E escapa principalmente porque nem conseguimos nos perceber.

Na água só escuto e vejo,
reflito,
reflexão.


OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA

Pergunta pro poeta
se o que ele sente é uma reta
ele não diz porque escreve
ele sente e por isso escreve
toda aquela maravilha por qual se apaixona o leitor
poesias que se colocam em cartas de amor
que se recitam
que compartilham.

Mas quase ninguém sabe
o que se passa no peito do autor.

Pro leitor muitas vezes é colorido
é estação de verão voltando à primavera
no entanto,
às vezes pro poeta é sempre cinza
é sempre frio.

É um doce que se fez do amargo.
É o coração da ostra cheio de magoa
que se fez pérola
e a madame nem sabe
que aquele colar tão caro e cobiçado
é fruto de grãos que causam dor.

Ostras liberam substâncias
agrupam partículas que incomodam
que machucam
poetas não são diferentes.

18 maio, 2014

Balanço do mar

Com o tempo tantas coisas passam
Com o tempo tantas outras coisas são
O que era belo já não tem mais graça
E o sincero foi jogado as traças.

Então a cena já não é a mesma
E as pessoas entram, ficam e vão
E a gente se compõe de espaços
Entre mudanças e recordações.

E quando o sino bate eu sei que é hora
A roda vem e muda toda a história
Gira, gira, gira a cada aurora
Faz que vai-se embora
Porém não vive o agora
Pra que vejamos que é ventilador
De apertar o botão e retirar o calor
De apertar o botão mas não retalhar a dor.

E os dias ficam desta forma
A gente ri mas também um tanto chora
É feito onda que vive na memória
Você dorme e sente ela passar
E depois que acorda
Vê que está em outro lugar.

14 maio, 2014

Quarta-feira


A lua fica cheia 
para ficar nua prateada.
De longe nos guia pela rua 
e nos acompanha na calçada. 

Se olho para cima 
fico sob efeito de hipinose. 

Confesso tudo 
ela consegue penetrar
em meu mundo.


04 maio, 2014

SUA IDENTIDADE

Faça da vida o melhor
Faça aquilo que gosta 
Que não cala
Que se amostra.

Dançar poesia
Beber um tango 
Escrever um vinho
Cantar na cama
Vestir-se nu.

Tomar um porre de energia 
E um energético de sorriso 
Vibrar com o sol 
E se embelezar com a lua.

Pela manhã descansar na rua
Caminhando descalçado 
No que seja barro
Passar por cima dos portões 
Que tenham cadeados.

Doer e não usar morfina 
Sentir a dor que te impulsiona 
Fazendo todo sentido 
Te deslocando para outro caminho
Em direção da descoberta do eu.

Do que te nutre
Do que você é 
E do que você quer.

Ter um currículo em que você aprove
Em que você decida 
Ser o empregador e o empregado de ti mesmo
E neste ritmo meu camarada 
O grande lucro é a felicidade.